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Falta de informação deixa aprovados no OGMO sem saber quando irão trabalhar

Aprovados no concurso do OGMO passaram por treinamentos, largaram antigos empregos e fizeram planos — mas até agora, não sabem quando vão começar a trabalhar. Enquanto isso, nos bastidores do cais, cresce a insatisfação entre trabalhadores antigos, que temem perder espaço e renda.

A situação escancara um problema maior: a falta de informação clara e o risco de um racha dentro de um dos portos mais importantes do país. De um lado, gente nova tentando entrar. Do outro, quem já está lá tentando se manter. E no meio disso tudo, um silêncio preocupante por parte de quem deveria dar as respostas.

Enquanto o OGMO segue sem esclarecer quando — e como — os novos trabalhadores serão integrados ao sistema, a ansiedade só cresce. Os concursados estão treinados, prontos, mas parados. Já os veteranos olham com desconfiança, com medo de perder espaço no rodízio que define quem trabalha e, principalmente, quem ganha.

O rodízio como ponto de conflito

No Porto de Paranaguá, o rodízio é mais do que uma escala de trabalho. É o que garante a distribuição de tarefas e, por consequência, de rendimentos entre os trabalhadores. A chegada dos concursados reacendeu um debate delicado: como será feito esse encaixe no sistema já existente?

Enquanto alguns defendem que os novatos só sejam chamados quando houver falta de mão de obra entre os já sindicalizados, outros temem que o ingresso dos aprovados afete diretamente a divisão de ganhos. A remuneração é variável e depende da frequência com que o profissional é chamado — por isso, qualquer mudança nesse equilíbrio pode impactar o sustento de muitas famílias.

Entre a preparação e a espera

“Muitos de nós deixamos empregos formais porque acreditamos nessa oportunidade. Agora, ficamos preocupados em ficar sem renda”, relatou à reportagem um aprovado no concurso, que preferiu não se identificar. Ele representa um grupo de trabalhadores que enxergou no concurso público uma chance concreta de estabilidade, mas que hoje vive a frustração da espera e da insegurança.

Há também o receio de que, mesmo quando forem chamados, os concursados não tenham acesso igualitário aos serviços mais rentáveis do porto.

Sindicalização em dúvida e barreiras invisíveis

Outro ponto que aumenta a incerteza dos novos profissionais é a questão da sindicalização. Eles não sabem se serão automaticamente inseridos nos sindicatos ou se precisarão solicitar filiação. Essa dúvida também preocupa quem já está na base sindical, pois levanta questionamentos sobre regras, deveres e direitos.

Procurado pela reportagem do Clic Litoral, o Sindicato dos Estivadores de Paranaguá e Pontal do Paraná informou, por meio do secretário Nezias Paulino, que a possibilidade de filiação está assegurada pela assembleia geral e pela convenção coletiva da categoria. Segundo ele, cabe aos novos TPAs (Trabalhadores Portuários Avulsos) decidirem se querem ou não se sindicalizar.

Preocupações entre trabalhadores antigos

Nos bastidores do cais, o clima de desconfiança entre veteranos e novatos já é palpável. “Esses novos aí só sabem carimbar papel, nunca suaram de verdade no porto”, relatou um trabalhador antigo ouvido pela reportagem.

A crítica gira em torno da origem dos aprovados: muitos vieram de escritórios e não têm vivência com o esforço físico exigido no porto — como o carregamento de sacarias, a movimentação de contêineres sob sol e chuva, o trabalho noturno e o constante risco de acidentes.

“Passaram na prova, mas será que aguentam o tranco?”, questiona um estivador com décadas de experiência.

Mais do que resistência física, o que está em jogo é uma mudança profunda na cultura da categoria. Pela primeira vez em mais de 100 anos, o ingresso se deu por concurso público, sem o tradicional sistema de indicações familiares — algo que, para muitos, rompe um elo de confiança construído ao longo de gerações.

Falta de diálogo e informação: o combustível da crise

O que poderia ter sido uma transição planejada e transparente acabou se transformando num campo minado. Para muitos sindicalistas, a crise atual poderia ter sido evitada com comunicação clara desde o início do processo. A ausência de diálogo aprofundou a divisão entre os trabalhadores e alimentou boatos, desinformação e insegurança.

OGMO silencia diante da polêmica

A reportagem procurou o OGMO Paranaguá para comentar os questionamentos levantados, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.

Enquanto isso, os novos aprovados continuam à margem do sistema, e os antigos, com o pé atrás. O que está em jogo vai além do início de um trabalho: é o equilíbrio de um sistema histórico, a confiança entre categorias e o direito de centenas de trabalhadores saberem o que será do seu futuro no maior porto do Paraná.

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