O mundo amanheceu mais silencioso nesta segunda-feira (21), após a confirmação da morte do Papa Francisco, aos 88 anos, no Vaticano. O falecimento ocorreu durante a madrugada, na Casa Santa Marta, onde ele residia. A causa foi uma pneumonia que já o havia deixado internado por cerca de 40 dias nos últimos meses.
Jorge Mario Bergoglio, nascido em Buenos Aires, na Argentina, foi um Papa diferente desde o início. O primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica e também o primeiro jesuíta a assumir o cargo mais alto da fé católica. Escolheu o nome Francisco em homenagem a São Francisco de Assis, o santo da humildade, da paz e do cuidado com os pobres e a natureza – valores que o pontífice carregou até o fim da vida.
Últimas palavras: um apelo pela vida e pela paz
Na sua última celebração de Páscoa, Papa Francisco emocionou fiéis do mundo todo ao deixar uma mensagem forte sobre a importância da vida e da paz. Com a saúde já debilitada, ele falou com firmeza: “Cristo ressuscitou! Neste anúncio encerra-se todo o sentido da nossa existência, que não foi feita para a morte, mas para a vida.”
Francisco lembrou que, para Deus, todas as vidas são preciosas: desde a criança no ventre da mãe até os idosos e doentes que, segundo ele, vêm sendo cada vez mais descartados em várias partes do mundo. “A Páscoa é a festa da vida. Deus criou-nos para a vida e quer que a humanidade ressurja!”, afirmou com esperança.
O Papa também fez um apelo emocionante pela paz, citando países em conflito como a Terra Santa, Gaza, Síria, Iêmen, Sudão, Sudão do Sul, Mianmar e vários outros. Ele se mostrou especialmente comovido com a situação humanitária em Gaza, que chamou de “dramática e ignóbil”. Francisco pediu que o princípio da humanidade esteja sempre no centro das decisões diárias e criticou ataques a escolas, hospitais e civis indefesos.
“Que o princípio da humanidade nunca deixe de ser o eixo do nosso agir quotidiano. Não são atingidos alvos, mas pessoas com alma e dignidade”, destacou.
Em sua mensagem final, pediu que a Páscoa fosse também uma oportunidade para libertar prisioneiros de guerra e presos políticos. E encerrou com uma bênção: “Feliz Páscoa para todos!”
Luto no Paraná
A comoção pela morte do Papa Francisco chegou até o Brasil. No Paraná, o governador Carlos Massa Ratinho Junior decretou luto oficial de três dias em todo o estado. “Papa Francisco foi um exemplo de humanidade, fé e sabedoria. Seus ensinamentos inspiraram o mundo. Teremos sempre na memória a imagem de alguém que trabalhou incansavelmente pela paz e união entre os povos”, declarou o governador.
Ratinho Junior lembrou ainda o encontro que teve com o Papa em 2022, no Vaticano, durante uma Audiência Geral. Na ocasião, ele estava acompanhado da primeira-dama Luciana Saito Massa, do arcebispo emérito de Maringá, dom Anuar Battisti, e de padres do Paraná. O governador entregou ao Papa uma homenagem com símbolos do estado e descreveu o momento como “especial”.
O governador em exercício, Darci Piana, também se manifestou: “Jesuíta, Papa Francisco marcou a história com sua simplicidade, humanidade e coragem de aproximar a Igreja das pessoas. Seu legado de amor, humildade e diálogo permanecerá vivo nos corações do mundo inteiro.”
Uma vida dedicada ao próximo
Filho de imigrantes italianos, Bergoglio nasceu em 1936 e foi ordenado sacerdote em 1969. Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 1996 e cardeal em 2001, indicado pelo então Papa João Paulo II. Sua trajetória foi marcada pela humildade e proximidade com os mais pobres.
Francisco também era professor e estudioso. Formado em Filosofia e Teologia, lecionou por muitos anos em colégios e universidades religiosas. Mas foi como Papa que ele ganhou o coração do mundo ao defender uma Igreja mais aberta, simples e próxima de todos, especialmente dos marginalizados. Levantou debates importantes sobre imigração, mudanças climáticas, desigualdade social e o papel da mulher na sociedade.
Em sua primeira viagem internacional, escolheu o Brasil como destino. Esteve no Rio de Janeiro durante a Jornada Mundial da Juventude, em julho de 2013, onde visitou comunidades carentes e levou mensagens de esperança a milhares de jovens.
Um Papa do povo
Durante seus 12 anos à frente da Igreja Católica, Francisco evitou os luxos e protocolos exagerados. Preferia o contato direto com os fiéis, o uso de roupas mais simples e atitudes que aproximavam a Igreja das pessoas comuns. Ele costumava dizer que a Igreja precisava ser como um hospital de campanha, cuidando de quem mais precisava, com acolhimento e amor.
Sua partida deixa um vazio entre milhões de católicos, mas também entre todos que acreditam na importância do respeito, da empatia e da construção de um mundo mais justo e humano.