Por: Aline Cardoso
Fazer jornalismo sério é lidar diariamente com portas fechadas, e-mails ignorados, ligações não retornadas e um silêncio estratégico de quem deveria prestar contas. Muitas vezes, tentamos ouvir o outro lado — órgãos públicos, assessorias, secretarias, prefeituras — e o que recebemos é o eco do descaso. Quando não respondem, perdem o direito de dizer que não foram ouvidos. E quando atacam a imprensa para tentar salvar a própria imagem, estão ferindo não só um veículo, mas o direito da população de ser informada com clareza.
Questionar o uso do dinheiro público não é oposição; é o que qualquer cidadão atento esperaria. O jornalismo não deve se curvar diante do desconforto alheio. Pelo contrário: ele existe exatamente para provocar esse desconforto em quem se acostumou com a impunidade do silêncio.
Quem atira pedras na vidraça da imprensa, geralmente teme seu próprio reflexo. Mas vale atualizar: quem administra com responsabilidade responde com dados — não com ataques. E quem compreende o valor de uma imprensa livre sabe que cada pergunta feita por um jornalista é, na verdade, uma pergunta feita em nome de toda uma população que merece respostas, não desculpas.
Prioridades públicas em xeque: dinheiro para espetáculo, falta para o básico
Enquanto milhões saem do cofre da Prefeitura de Matinhos para shows e palcos, crianças da rede municipal continuam esperando por uniformes e materiais escolares. A desculpa? A gestão passada. O culpado? Qualquer um, menos quem governa hoje. Mas o dinheiro, curiosamente, aparece quando se trata de palco, som, luz e fogos.
O que não apareceu foi a humildade de assumir os próprios erros. Em vez disso, a Prefeitura decidiu mirar sua artilharia contra a imprensa. Atacou o portal JB Litoral, chamando de “fake news” uma reportagem que teve a coragem de expor gastos públicos com base em documentos oficiais — disponíveis para qualquer cidadão no Portal da Transparência. E enquanto isso, seguimos com a única certeza que os registros mostram: o dinheiro é do cofre público. É da Prefeitura. É do povo.
É inadmissível que, em pleno 2025, com o Portal da Transparência acessível a qualquer cidadão e com verbas públicas devidamente registradas, ainda vivamos um tempo em que questionar gastos públicos seja tratado como afronta. Não há mais espaço para gestões que preferem o espetáculo à responsabilidade, nem para discursos que tentam calar a imprensa quando ela apenas cumpre seu papel.
E aqui, não se trata apenas de defender um veículo específico — seja o meu ou o de qualquer colega —, mas de proteger um princípio fundamental: o direito da sociedade à informação. Todo ataque à imprensa, mesmo que não nos atinja diretamente, precisa ser combatido com firmeza, para que outros detentores do poder entendam que liberdade de expressão não se negocia, se garante.
Enquanto houver quem tente usar o silêncio como escudo, seguirá sendo dever do jornalismo acender a luz — e mostrar, com provas, o que tentam esconder.